Entre as ações mais negociadas da bolsa de valores brasileira, a do IRB Brasil (IRBR3) é a que acumula a maior queda em relação ao patamar pré-pandemia. O motivo da baixa de 90% desde então, no entanto, é mais estrutural do que relacionado à covid-19.
É o que aponta um estudo feito pela Guide Investimentos sobre as maiores baixas da bolsa entre o final de 2019 (antes dos primeiros efeitos da pandemia de coronavírus no Brasil) e o fechamento da última segunda-feira (28). O levantamento considera ativos do índice IBrX, que reúne as ações mais negociadas, e também categoriza os principais fatores motivaram as quedas (estrutural, pandemia ou alta dos juros).
Nesse sentido, os analistas da Guide acreditam que “ações que mais sofreram com o aumento de juros e pandemia devem começar a ter uma recuperação mais rápida, como CVC (CVCB3). Já ações que caíram por fatores mais estruturais, como IRB, têm perspectivas de recuperação mais lenta.”
Veja abaixo:
EmpresaAçãoQueda desde antes da pandemiaFator principalIRB BrasilIRBR3-90%EstruturalCognaCOGN3-75%EstruturalMarisaAMAR3-72%PandemiaViaVIIA3-62%EstruturalCieloCIEL3-62%EstruturalEztecEZTC3-61%JurosCVCCVCB3-58%PandemiaAzulAZUL4-56%PandemiaLightLIGT3-53%JurosYduqsYDUQ3-53%PandemiaEcorodoviasECOR3-52%PandemiaGolGOLL4-52%PandemiaQualicorpQUAL3-51%EstruturalBRFBRFS3-48%EstruturalBR MallsBRML3-47%PandemiaLojas RennerLREN3-45%JurosAmericanasAMER3-43%EstruturalMagazine LuizaMGLU3-41%EstruturalFleuryFLRY3-39%EstruturalGrupo UltraUGPA3-39%Estrutural
(Fonte: Guide Investimentos)
Problemas estruturais
O relatório, assinado pelos analistas Fernando Siqueira, Rodrigo Crespi e Gabriel Gracia, analisa que a IRB “continuará a enfrentar obstáculos na rentabilização de suas linhas de negócios devido a maior concorrência das resseguradoras estrangeiras, flexibilização quanto às regras de resseguros e aumento do custo do funding, além de eventos de inadimplência”.
“Visto a condenação da empresa devido a fraude fiscal e a baixa rentabilidade histórica das empresas de resseguros , recomendamos a troca dos papéis de IRB por BB Seguridade (BBSE3)”, dizem os especialistas.
Depois da ação da IRB, a segunda maior queda registrada no período é a da Cogna (COGN3), com perda de 75%. O fator principal, segundo os analistas da Guide, também é estrutural. A equipe avalia que, apesar de uma “melhora operacional do grupo”, “ele vem perdendo participação para a concorrência, tendo como destaque a Yduqs (YDUQ3)”, além de haver uma preocupação sobre “a capacidade de amortização da dívida”.
O relatório também destacou negativamente a Cielo (CIEL3), que tem baixa acumulada de 62%, também atribuída a problemas estruturais. “Cielo é outro caso em que vemos uma relação risco-retorno muito ruim (quase tão desfavorável quanto IRB): a maior concorrência no setor de adquirência já está plenamente incorporada aos resultados, mas novas formas de pagamento como o PIX representam um risco elevado.”
Perspectivas de recuperação
CVC prevê recuperação muito forte do mercado acional de turismo. Rio de Janeiro, Brasil. 05/05/2014 REUTERS/Sergio Moraes
Por outro lado, os analistas citam a CVC como “destaque positivo no relatório”. A ação acumula perdas de 58% desde o final de 2019 – atrás apenas de Lojas Marisa (AMAR3) na lista de quedas motivadas principalmente pela pandemia, com 72%.“Acreditamos que o pior já tenha ficado para trás para a CVC, que tem demonstrado melhora operacional”, escreveram os analistas.
A perspectiva é de que, com o ciclo de alta de juros no Brasil chegando ao fim, “os papéis voltados para a economia doméstica devem voltar a apresentar uma reação positiva mais consistente”.
“Não fosse a alta dos combustíveis impactando, teríamos uma expectativa bem mais positiva em relação aos papéis, entretanto, dada a melhora nas margens, estamos mais otimistas com CVC, que vem se beneficiando da reabertura da economia, principalmente com eventos e pacotes de turismo, e, portanto, recomendamos a manutenção de CVCB3 em portfólio”, disseram os especialistas da Guide.